A situação da população idosa e a necessidade de grupos de conversas foi levantada na última semana durante o lançamento do livro “Conversas e Memórias: narrativas do envelhecer” de Gonçalo Luiz de Melo e Adriana Rodrigues Domingues. O lançamento do livro aconteceu com uma palestra e debate sobre o tema.
Gonçalo e Adriana falaram sobre o projeto que realizaram em São Miguel Paulista que deu origem ao livro. O projeto consistia em ir conversar com um grupo de idosos. A partir destas conversas o livro foi criado. No debate em Santa Cruz Gonçalo lembrou que o idoso é um sujeito de muitas idades. “Basta trazer sua história que ele passa a ter 40, 10, 20, 60 anos novamente”, afirma.
O autor enfatiza ainda que são os relacionamentos afetivos que permanecem no final. “A nossa capacidade de se relacionar com o próximo e todas as nossas idades é o que compõe a pessoa”, diz. A autora Adriana lembra que o que vivemos agora é a preparação para essa velhice .
Adriana enfatizou que o projeto é simples e pode ser realizado em qualquer comunidade, até mesmo entre os vizinhos de uma rua. “Basta sentar e conversar. Nós precisamos reaprender a conversar. Não conversamos mais. Não temos tempo ou paciência para ouvir o outro”.
Voluntária no Lar São Vicente de Paula há muitos anos, Nilda Caricatti esteve presente na palestra debate e ficou feliz em ver a preocupação com os idosos no projeto e no livro. Ela lamentou apenas que todos deveriam ter ouvido a palestra. “Estamos nos tornando um país de idosos e temos que aprender a cuidar destes idosos”, diz.
Nilda lembrou ainda que essa ideia de rodas de conversas é necessária em todas as classes sociais. “Temos na cidade muitas pessoas que têm dinheiro, mas que precisam de uma conversa, de uma atenção. Então isso aqui hoje foi uma aula para nós, foi maravilhoso.
O artista plástico santa-cruzense Plínio Rhigon é o autor da capa do livro. Ele revelou que fez o retrato dos 12 personagens do livro, mas acabaram não sendo utilizadas na obra. O material foi guardado e deve ser exposto em outra ocasião. Sobre o livro Plínio enalteceu o trabalho e enfatizou que todos estamos envelhecendo e é preciso ter uma consciência filosófica deste envelhecer.
“Um livro como este pode ajudar as pessoas a refletir um pouco. O envelhecer é uma grandeza, é uma dádiva e as pessoas acham ruim envelhecer. Eu acho muito bonito. Me sinto feliz em estar envelhecendo e aceitar o meu envelhecer”, diz.
O autor Gonçalo ficou feliz em realizar o lançamento do livro em sua terra natal. “Acredito que a presença de amigos antigos meus tem tudo a ver com a mensagem do livro. Este livro tenta relatar justamente a questão das amizades, a questão do respeito com o outro, a questão do envelhecimento e da humanidade mesmo, dos relacionamentos. Até que ponto eles são fortes”, argumenta.
Lançamento – O lançamento do livro com a palestra debate aconteceu no dia 12 de março na Câmara Municipal com a presença dos autores Gonçalo e Adriana, além do artista plástico Plínio e do fotógrafo Luiz Barros Braga com a exposição “Retalhos do Tempo”. O evento aconteceu no saguão da Câmara onde estavam expostas as fotografias. O local ficou lotado e o público foi bastante atuante no debate.