Câncer de tireoide, como o do cantor João Neto, é curável em 95% dos casos; entenda a doença
O cantor João Neto, da dupla com Frederico, passou por uma cirurgia para retirada de um carcinoma na manhã desta quinta-feira (17) e se recupera no quarto, segundo informações da assessoria de imprensa.
Na tarde de quarta-feira (16) ele revelou aos fãs em vídeo postado nas redes sociais da dupla, que foi diagnosticado com câncer na tireoide em 23 de dezembro do ano passado e iniciaria um tratamento no Hospital de Amor de Barretos(SP).
No fim do dia, João Neto tranquilizou os fãs em mais uma publicação sobre o assunto.
"Quero tranquilizar vocês, porque é um tratamento bem tranquilo. Vou precisar ficar de repouso para recuperação, mas logo logo estou seguindo com agenda de shows normal. Graças a Deus não vou precisar de quimioterapia, nada disso. Daqui mais ou menos uns 15 dias já estou 'on 'e 100%".
Doença tratável
Segundo a médica radiologista Cristina Chammas, diretora do Serviço de Ultrassonografia do Instituto de Radiologia (InRad) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP), o câncer na tireoide não é frequente e é tratável e curável em 95% dos casos.
"Nódulo na tireoide é super comum. Se você for pegar, 5% dos pacientes com nódulos na tireoide é que, na verdade, vão ter nódulos malignos. Mas 95% dos nódulos vão ser benignos, por isso a gente fala que não é um câncer tão frequente".
Oncologista da Oncoclínicas Ribeirão Preto, Carlos Fruet explica que a cirurgia que o cantor foi submetido é simples e de recuperação rápida e não tem qualquer ligação com uma possível sequela na voz.
"É uma cirurgia pequena. Claro que existem, como qualquer cirurgia, seus riscos de complicação, mas é um cortezinho muito pequeno, a cicatrização é super rápida e, em relação à alteração de voz ou sequelas que possa causar, dificuldade de exercer a profissão por ele ser cantor, isso não tem nada a ver. Ele recupera rápido e volta normalmente".
Tipo de câncer não é agressivo
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA) a doença afeta três vezes mais as mulheres do que os homens. Em 2020, foram 13.780 novos casos, sendo 1.830 homens e 11.950 mulheres.
Dados do Atlas da Mortalidade por Câncer do INCA apontam que, em 2019, foram 869 mortes por câncer de tireoide no Brasil, sendo 298 homens e 571 mulheres.
Segundo Cristina Chammas, esse tipo de câncer não costuma ser agressivo e, apesar do ultrassom ser a melhor ferramenta de detecção, não existe um exame anual de prevenção, como nos casos de câncer de mama.
"Costuma ser um câncer de uma condução mais benigna. Você tem um câncer, você trata e você cura em 95% dos casos. Para se ter uma ideia, depois que você opera o câncer de tireoide, a sobrevida livre de câncer de tireoide é mais de 30 anos. Por isso, não é nem recomendado que se fique fazendo ultrassom de rotina para evitar câncer de tireoide, como no câncer de mama, que a gente tem essa premissa, esse protocolo de prevenção. Isso não tem na tireoide".
Cirurgia é o mais indicado para esse tipo de câncer
O oncologista Carlos Fruet explica que a grande maioria dos tumores na tireoide é descoberta em fases iniciais. Por isso mesmo, o melhor tratamento para este tipo de câncer é a cirurgia.
"Câncer de tireoide é sinônimo de cirurgia. Existem tumores pequenos localizados apenas de um lado da tireoide, então o cirurgião retira metade. Em alguns casos, necessita retirar a tireoide inteira. Em outros casos, os 'carocinhos' que temos no pescoço, chamados gânglios, existe a chance de estarem contaminados com alguma célula, então são retirados também".
Depois da cirurgia, o paciente precisa fazer acompanhamento com cirurgião de cabeça e pescoço, oncologista e endocrinologista.
"Quando retira a tireoide, os pacientes vão ficar sem hormônio e vão entrar em hipotireoidismo induzido pela cirurgia. Tem que repor e então precisa de acompanhamento para fazer essa reposição, ter a dose correta. Atrás da tireoide existe uma glândula chamada paratireoide [responsável por controlar os níveis de cálcio no sangue], que também pode ser retirada. Em alguns casos, o paciente também fica com déficit de cálcio, então também é importante repor".
Tireoide regula metabolismo do corpo
Oncologista do Hospital Sírio-Libanês, Gilberto de Castro Junior explica que a principal função da tireoide é produzir hormônios que vão regular o metabolismo no corpo. A glândula é responsável pela produção dos hormônios T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina).
"O principal é o T4. Quando falta esse hormônio, o metabolismo fica mais lento, por isso que a pessoa ganha peso, apresenta inchaço. Quando tem excesso, o metabolismo fica muito acelerado, por isso que a pessoa emagrece demais, fica acelerada, tá sempre com calor".
Tipo de tumores na tireoide
Existem três grandes grupos de tumores que podem indicar um câncer na tireoide. O mais comum é o carcinoma bem diferenciado, ainda de acordo com Gilberto Castro.
"Mais de 90% dos casos é o carcinoma bem diferenciado, ele aparece a partir das células que produzem os hormônios da tireoide e tem de dois tipos, o papilífero e o folicular. Esse tumor é tratado com cirurgia e, em alguns casos, precisa receber tratamento com iodo radioativo depois", diz o especialista.
Um pouco mais raro, o carcinoma medular aparece na célula C e pode ser hereditário em alguns casos. "Ele causa metástases mais precocemente e, eventualmente, existem tratamentos específicos com drogas ou quimioterapia".
O terceiro tipo de tumor e mais agressivo de todos é o carcinoma anaplásico. "Ele pode dar metástase precocemente e, eventualmente, precisa de cirurgia, radioterapia e quimioterapia", revela Castro.
Prevenção inclui visitas frequentes ao médico
De acordo com os especialistas ouvidos pelo g1, a principal forma de prevenção do câncer da tireoide é ter um acompanhamento médico frequente. Por ser uma doença silenciosa e, muitas vezes, indolor, é mais difícil identificar os sintomas de início.
"Se começar a sentir alguma bolinha no pescoço, um gânglio que está aumentando, tem que procurar um médico, não é para achar que isso é normal. Muitas pessoas tem bócio e falam 'é benigno' e só vão atrás quando começa a aumentar e quando vai ver, não é tão benigno assim. Em casos muito avançados, pode ter dor no pescoço e rouquidão, mas é muito raro acontecer", explica Castro.
Para Fruet, consultas regulares são importantes, mas não há motivo para pânico por conta do caso de João Neto. "Vale a pena ter seu médico, fazer acompanhamentos de saúde, mas é preciso lembrar que esse tipo de câncer, na grande maioria das vezes, são tumores menos agressivos e de altíssima possibilidade de cura fazendo o tratamento correto".