Índios da etnia Guarani, que estão ameaçados por uma ação de reintegração de posse na Aldeia Tekoa Pyau, localizada no Jaraguá, zona oeste paulistana, fizeram um ato hoje (25) na Avenida Paulista, em frente ao Tribunal Regional Federal (TRF). Eles protestam contra o processo que autoriza a retirada de 700 pessoas da terra indígena e cobram o andamento do processo de demarcação de terras.
No pátio em frente ao tribunal, eles apresentaram danças, cantos e rezas tradicionais. No TRF, protocolaram uma carta e entregaram desenhos feitos pelas crianças da aldeia. Em primeira instância, o prazo para que eles deixassem o local se encerrava hoje. Com o recurso dos indígenas, houve a suspensão temporária da medida.
“Estamos pedindo um esclarecimento a esse juiz, porque a gente não entende a lei do branco. O que entendemos é que estamos vivendo da nossa maneira e não estamos incomodando ninguém. Hoje, viemos mostrar que podemos ser um incômodo”, declarou Davi Guarani, uma das lideranças indígenas. De acordo com o processo judicial, a posse da terra é questionada desde 2002.
Os índios destacam que moram no local desde a década de 1960 e que os autores da ação nunca residiram naquele território. “Tínhamos um caminho que fazemos até hoje, vivíamos em uma semimigração, que é o seminômade. Esses pequenos pedaços dessa migração foram sendo retomados e até hoje estamos em processo de luta por esses territórios. Queremos as áreas em que já vivemos e nem isso conseguimos”, explicou a liderança.
Em 2013, a Fundação Nacional do Índio (Funai) aprovou o relatório da ocupação guarani na região do Pico do Jaraguá, reconhecendo a terra indígena, com cerca de 532 hectares. Os documentos emitidos pela fundação, no entanto, precisam da portaria do Ministro da Justiça para que as áreas sejam demarcadas.
Sem a assinatura da portaria declaratória pelo ministério, os índios ainda sofrem ameaças de despejo, além das dificuldades para manter a tradição indígenas nas atuais áreas. “Estamos em uma área de 4 hectares, que já está superpovoada”, explicou Davi Guarani. Ele destaca que o atual território em que vivem os impede de manter atividades tradicionais da cultura indígena, como a caça e a pesca.
Uma população de aproximadamente 2 mil guaranis reside na Grande São Paulo, distribuída em sete aldeias. Três delas estão no Pico do Jaraguá e as demais, no extremo sul da cidade, em Parelheiros.